segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

'Into The West' - Das Páginas para o Filme e para a Música




Basta atravessar as primeiras páginas de O Senhor dos Anéis que o leitor já percebe que a música desempenha um papel fundamental no enredo de J.R. R Tolkien. São dezenas de músicas e Poemas que retratam acontecimentos, falam de personagens, descrevem lugares, exaltam a cultura dos povos da Terra Média e suas histórias. De fato, a letra de tais músicas e poemas guiam a imaginação e aguçam o coração do leitor aos eventos épicos e dramáticos do enredo, desde o primeiro ao último capitulo. Não é de admirar que a bela e majestosa narrativa de Tolkien também tenha inspirado a Trilha Sonora dos filmes de Peter Jackson que rendeu inúmeros prêmios a seu compositor – Howard Shore.

Annie Lennox recebe o Oscar de Melhor Canção Original


No dia 29 de fevereiro de 2004, Annie Lennox, Fran Wash e Howard Shore receberam o Oscar de Melhor Canção Original pela balada ‘Into The West’ tema de O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei. Mas o que torna esta música tão especial ao público do filme e aos leitores de Tolkien? Vejamos uma breve análise das emocionantes e majestosas últimas passagens do livro e de como serviram de inspiração na composição desta canção que encantou e tirou lágrimas de milhões de pessoas.

Era sol poente nos Portos Cinzentos. É possível imaginar e sentir uma forte brisa vinda do mar, céu alaranjado, o canto das gaivotas voando pelas imponentes construções em Mithlond e som das ondas do mar. A grande guerra do Anel havia chegado ao fim, o destino do mundo fora mudado, mas as feridas físicas e emocionais no herói Frodo Bolseiro se tornaram difíceis de cicatrizar. Em resumo, este é o cenário do último capitulo e melancolia é o sentimento que Tolkien excepcionalmente crava no leitor nas últimas páginas. Os Elfos atravessarão o mar pra nunca mais voltar, Frodo, Bilbo e o inesquecível Gandalf também deixarão a Terra Média. Para o leitor fica claro que não haverá próximo capitulo e que naquelas últimas páginas terá de lidar com os mesmos sentimentos daqueles queridos personagens – A amargura da despedida. Com Sam por exemplo, Tolkien descreveu:

“a noite se aprofundou na escuridão; e enquanto contemplava o mar cinzento ele via apenas uma sombra sobre as águas, que logo se perdeu no oeste. Sam continuou ali ainda um bom tempo, ouvindo apenas o suspiro e o murmúrio das ondas nas praias da Terra-média, e o som delas penetrava fundo em seu coração…”.

O que dizer de Frodo? Depois de despedir-se de seus queridos amigos, Tolkien continuou:

“As velas foram içadas, o vento soprou e lentamente o navio se afastou ao longo do estuário comprido e cinzento; e a luz do frasco de Galadriel que Frodo carregava faiscou e se perdeu. E o navio avançou para o Alto Mar e prosseguiu para o oeste, até que por fim, numa noite de chuva, Frodo sentiu uma doce fragrância no ar e ouviu o som de um canto chegando pela água. E então teve a mesma impressão que tivera no sonho na casa de Bombadil; a cortina cinzenta de chuva se transformou num cristal prateado e se afastou, e Frodo avistou praias brancas e atrás delas uma terra vasta e verde sob o sol que subia depressa.”
Nos capítulos anteriores o personagem Legolas entoou uma canção sobre as Terras Imortais cuja letra dizia:


“Para o Mar, para o Mar! As gaivotas vão gritando,
O vento está fluindo, branca espuma levantando.
A oeste, oestembora, redondo o sol vai indo.
Barco cinza, barco cinza, o chamado estás ouvindo 
Das vozes de meu povo, dos que não vejo mais? 
Vou deixar vou deixar os bosques maternais;
nossos anos já vão indo, nossos dias terminando. 
Amplas águas vou cruzar, sozinho navegando.
Na Praia Derradeira longas ondas vão quebrando, 
Naquela Ilha Perdida doces vozes vão clamando, 
Em Eresséa, em Casadelfos que mortal não viu presente, 
Onde as folhas jamais caem: lá meu povo eternamente.”

Os Portos Cinzentos - Ted Nasmith
Obviamente tais escritos foram dramatizados sob as mesmas circunstancias para o filme e, assim como no livro, emocionou a todos. Fica claro que tais passagens ajudaram Annie Lennox, Fran Wash e Howard Shore na composição da letra e melodia de ‘Into The West’ (Para o Oeste), que magistralmente conseguiu transmitir musicalmente todo o cenário físico e sentimental da última página do livro e da última cena do filme. O som das primeiras notas musicais é formado a partir de um instrumento de cordas que nos soam ao cristalino som dos pingos de chuva ao cair no mar, e então uma voz como o timbre de Galadriel canta:

Repouse
Sua cabeça frágil e cansada
A noite esta começando
Você chegou ao fim da jornada
Durma agora
sonhe com os que vieram antes
Eles estão chamando
Das praias distantes
Por que você chora?
O que são essas lágrimas no rosto?
Logo você verá
Que todo esse medo passará…
Seguro em meus braços
Você apenas dorme

O que você consegue ver
No horizonte?
Por que a gaivota branca canta?
Através do mar
Uma lua pálida se levanta
Os navios vieram
Para te levar para casa

E tudo se tornará
Em um vidro prateado
Uma luz sobra a água
As almas passarão

A esperança se apaga
Em um mundo de noite
Através das sombras caindo
Fora da 
memória e do tempo
Não diga…
Nós chegamos ao fim…
As praias brancas estão chamando
Eu e você, nos encontraremos novamente
E você estará nos meus braços
Dormindo

(Chorus)
E tudo se tornará
Em um vidro prateado
Uma luz sobra a água
Navios cinzas passam pelo oeste

Finalizando da mesma forma em que começou, o som de cordas nas ultimas notas nos transmitem novamente o delicado e mais lento som da chuva que vai se dissipando enquanto o último barco desaparece no oeste. E ao final da canção o ouvinte acorda daquele mundo especial da mesma forma quando terminou o livro e o filme: Emocionado.

Das páginas para o filme e para a música, ‘Into The West’ foi um marco e tornou ainda mais claro o dom que a narração de Tolkien tem não só para se produzir belos filmes, mas também para inspirar belas músicas!


2 comentários:

  1. Lindo lindo ! E com todo o clima de nostalgia que O Hobbit nos deixou ...

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