segunda-feira, 2 de novembro de 2015

[It - A Coisa] Primeira experiência no Terror

SINOPSE: "Durante as férias escolares de 1958, em Derry, pacata cidadezinha do Maine, Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly aprenderam o real sentido da amizade, do amor, da confiança e... do medo. O mais profundo e tenebroso medo. Naquele verão, eles enfrentaram pela primeira vez a Coisa, um ser sobrenatural e maligno que deixou terríveis marcas de sangue em Derry. Quase trinta anos depois, os amigos voltam a se encontrar. Uma nova onda de terror tomou a pequena cidade. Mike Hanlon, o único que permanece em Derry, dá o sinal. Precisam unir forças novamente. A Coisa volta a atacar e eles devem cumprir a promessa selada com sangue que fizeram quando crianças. Só eles têm a chave do enigma. Só eles sabem o que se esconde nas entranhas de Derry. O tempo é curto, mas somente eles podem vencer a Coisa. Em It - A Coisa, os amigos irão até o fim, mesmo que isso signifique ultrapassar os próprios limites."



Sempre me falaram que Stephen King é o rei dos livros de Terror, e, visto que eu ainda não tinha lido nenhum livro do gênero, decidi começar pela obra que alguns chamam de obra-prima do renomado escritor: 'It' ou (It - A coisa - edição brasileira). Atravessar pelas mais de 1.100 páginas do livro (mesmo no Kindle) foi um grande feito secundário, o primário foi sair psicologicamente ileso dessa experiência literária perturbadora para um leitor novato no gênero.

O enredo do livro é centralizado na cidade fictícia de Derry, que desempenha um papel fundamental na história. Explorar Derry sob a ótica de todos personagens ao longo do livro é como explorar uma mansão velha e mal assombrada, onde até o ar que se respira é hostil. Nesta pequena cidade está o rancor e o medo mas também está a nostalgia da infância amarga e ao mesmo tempo doce dos personagens principais: Bill, Richie, Stanley, Eddie, Ben, Mike e Beverly. Se você  for um leitor adulto, alguns desses sete personagens, ou todos eles, vão ser um espelho vivido da sua própria infância. Conhece-los e ter criado vinculo emocional com eles foi algo que eu não esperava, mas o pior foi ter me dado conta que havia me apegado a personagens dentro de um livro de terror e, da metade pro fim, descobri que segui-los seria uma experiência agonizanteMera coincidência na experiência de um leitor ou resultado da condução extremamente talentosa de um contador de histórias?

Em algumas passagens King não se importa em adiantar o que vai acontecer antes de narrar o evento propriamente dito, como se no fundo estivesse desafiando o leitor: “eu não vou te fazer surpresas com o que vai acontecer, vou te surpreender pela forma que vou contar.”  A primeira peça do quebra cabeça é lançada no prólogo, que se passa em 1958, a partir disso a história se alterna entre o ano de 1985 e 1958, entre a infância e a vida adulta (atual) dos personagens. Talvez uma das pedras no caminho para alguns leitores seja o fato do King fazer inúmeras referência a músicas, livros, programas de TV, cantores e celebridades americanas que viveram na época de 1958-1985, o que pode deixar alguns leitores como peixe fora d’agua em alguns momentos. No entanto, temos de convir que isso não é um defeito da obra e os mais espertos podem fazer disso uma oportunidade para aprender mais sobre a cultura americana daquele tempo. 

Não considero defeito o excesso de histórias paralelas narrada pelos personagens (o que faz alargar o volume do livro), uma vez que tais excessos são usados para uma imersão mais qualificada ao objetivo do autor. O fato é que King soube os momentos exatos de acelerar, freiar, de levar o leitor para Derry, de finalmente coloca-lo no mesmo "barco" do "clube dos otários" e soltar a "corda" do mesmo na "correnteza" final usando uma narrativa roteirizada em ritmo alucinante que sucede os eventos que fecham o quebra-cabeça rumo ao clímax da história. 

Habilidoso nas passagens assustadoras, King não perdoa em transmitir medo em descrições convincentes de horrores que permearam minha cabeça em vários momentos, mesmo depois de ter largado o livro as cenas imaginadas á partir pelas palavras do autor me perseguiram durante a noite...e de dia. Será se o fato de sempre ter tido medo de palhaços tornou tais passagens mais assustadoras do que elas realmente são? Talvez, mas há uma lista de elementos da história que já foram ou são motivos de fobia em muitas pessoas: Palhaços, Balões, Pias, Banheiro, Álbum de fotos, Esgotos , Pássaros, Aranhas, e assim por diante. Se não são, é possível que algum destes se tornará.

É importante comentar também que a história tem passagens bastante polêmicas que deve ter incomodado muitos leitores dos anos 80 e certamente vai incomodar leitores atuais. Defeito do livro? Apelação do autor? Eu diria que não pois o gênero Terror tem como uma de suas características chocar ao associar o sobrenatural em linguagens corporais. Apesar de nunca ter lido algo do gênero, eu ja estava ciente do que poderia encontrar, além disso, embora tenha grande carga tensa e negativa, o livro também conta com momentos leves. Ainda sim, não recomendo aos que são sensíveis de consciência.

Além do sobrenatural ou através sobrenatural, It traz aos leitores adultos (ou quem está entrando na fase adulta) tocantes reflexões sobre a infância, seus mistérios, desejos, sonhos e medos. Terminei o livro querendo sair psicologicamente de Derry, querendo tirar a imagem do palhaço Pennywise da cabeça mas com uma grande satisfação de ter conhecido personagens maravilhosos e ter sentido de perto seus medos, angustias e superação. Conhecer Stephen King por através desse livro foi uma experiência diferente e marcante, embora eu não saiba se quero entrar numa dessas de novo. O talento genial desse autor não é para os fracos. 

2 comentários:

  1. Gostei da sua resenha. King não é o tipo de autor que me atrai, embora eu goste muito de Dark Fantasy, um dos gêneros ao qual ele pertence. E, pela forma como você fala do livro, ele realmente te tocou bastante, te fez viajar sem sair do lugar. É maravilhoso quando um livro faz isso com a gente. Espero que outros ainda façam o mesmo ou ainda melhor com você. Forte abraço!

    A. de Almeida - Vida de Escritor
    http://vdeescritor.blogspot.com.br/

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  2. Raoni, li sua resenha só depois de terminar o livro e... Concordo com tudo. Há muito tempo não me apegava a personagens como desta vez. Um livro fantástico, obrigado por indicar lá no grupo do Facebook! Um abraço

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