sexta-feira, 23 de junho de 2017

Precisamos falar sobre CONTOS!

Edgar Allan Poe - Machado de Assis - Clarice Lispector

“O conto não é mais o mesmo depois de Poe. Não se escreve mais da mesma maneira depois de Poe. Não se vê mais o mundo, a vida e a morte da mesma ótica depois de Poe. ” Estas são as palavras de Eliane Fitipaldi Pereira* ao apresentar o livro ‘Contos de Suspense e Terror’, do celebre escritor Norte Americano Edgar Allan Poe (Veja aqui uma análise literária do conto 'O Gato Preto'). Além de Poe, vários escritores se destacaram nessa modalidade narrativa, tais como, Clarice Lispector, Machado de Assis, Moacyr Scliar, Charles Dickens, H.P Lovecraft e etc. Atualmente, tem se observado um aumento no interesse pela leitura de contos, dos clássicos aos atuais que são lançados frequentemente por novos talentos literários. O conto possui uma maneira peculiar e bastante atrativa de se contar uma história; mas, para se ter uma experiência plena desse gênero narrativo é preciso estar familiarizado com suas principiais características, nas quais vamos considerar neste artigo.

Conceitualmente, conto é uma narrativa curta, cuja característica central é condensar o conflito, tempo e espaço com reduzido número de personagens. Ou seja, diferentemente do romance, que possui uma narrativa longa, envolve muito personagens, maior número de conflitos e tempo e espaço mais ampliados, o conto condensa essas características para uma forma mais direta e econômica. Vejamos isso na prática através de uma breve análise estrutural do conto ‘O ganancioso Barão Raposo’, escrito por Rodrigo Passolargo*, que faz parte do livro ‘Vilões– Antologia com 15 Contos inéditos’:  

O GANANCIOSO BARÃO RAPOSO



O conto trabalha com um único conflito dramático: no caso, a ganância de um herdeiro gatuno que almeja ser o homem mais rico do mundo.

No texto de Rodrigo vemos todos os elementos característicos duma narrativa: o ¹narrador, em terceira pessoa, ² o espaço (Londres, Floresta, Caverna...), ³tempo (objetivo e cronológico) e a ³situação inicial: O barão que recusa ajudar dois mendigos, furta objetos valiosos e só pensa em como ficar mais rico. Em sequência há o elemento que desestrutura a história – os dois mendigos ficam ricos de forma fácil e repentina e o barão passa a cobiçar a mesma sorte dos ex-mendigos em estado totalmente doentio. Os personagens – o Barão (protagonista), dois mendigos e dois deuses onipresentes Shu e Emesh (secundários). O clímax da história (auge do conflito dramático) é atingido quando se cria o suspense – o plano do Barão Raposo de se tornar o homem mais rico do mundo de forma repetina, tal como os dois mendigos – pode ou não dar certo. A partir do momento que o barão Raposo chega numa caverna mística escondida nos confins de uma floresta, faz um pedido aos deuses e obtém uma benção inusitada, a história caminha para o seu desfecho.
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Thomas C. Foster*, no seu livro teórico de literatura ‘Para ler Romances como um especialista’, traz atenção para primeira frase, parágrafo e página na abertura de um romance. Segundo ele, a primeira página de um romance é uma espécie de negociação com o leitor, que o prepara e informa sobre a forma como o livro deverá ser lido. No entanto, apesar da importância de uma grande abertura, é possível que diferentes leitores nas mais diversas obras de romance, passem a se identificar ou se sentirem atraídos pela história bem depois dos primeiros capítulos. No conto é diferente. Devido a sua estrutura curta, é preciso mais do que um preparo inicial, o escritor tem a responsabilidade redobrada em convencer e fisgar o leitor imediatamente na introdução, principalmente quando o conto possui clímax e desfecho ocorrendo de forma simultânea - estrutura comum nos contos, principalmente nos Poeanos e de H.P Lovecraft.


"Escrever contos me faz sentir um contador de histórias daqueles que ficam ao redor da fogueira enquanto os demais permanecem à espera da próxima cena. E assim poder contar várias histórias diferentes a cada noite nessa floresta da literatura e entender o ritmo adequado que a história no conto necessita.Os leitores de contos conseguem absorver mais narrativas em tempo menor dos grandes romances." - Rodrigo Passolargo

Alguns creem que os contos, por serem menores e “econômicos”, são desconstituídos de valores estéticos e, por esta razão, são voltados mais para o passatempo do que qualquer outra função. Um engano. Os contos de Poe, num exemplo de estética, possuem uma magia verbal única – o ritmo hipnótico, hipérbatos e anacolutos (que criam o suspense), as aliterações, assonâncias e consonâncias que marcam as ações ou comportamento das personagens, o pleonasmo que transmite as emoções, e assim por diante. No conto
‘O Ganancioso Barão Raposo’, cujo a estrutura foi analisada neste artigo, possui em sua composição uma rica fusão de valores literários oriundos da cultura nordestina e inglesa numa história que, assim como os demais contos do livro, leva o leitor rumo ao coração (em sentido figurado) dos vilões ou antagonistas da sociedade (e das grandes histórias) numa reflexão alternativa aos mesmos.

Em seu conceito e estrutura definida, os contos, assim como os demais gêneros narrativos e literários, sempre proporcionaram e continuarão possibilitando a diversidade das ideias, estimulando nossa capacidade de reflexão e ampliação da nossa visão do mundo através de belas e marcantes histórias, quer sejam desenvolvidos por meio de recursos linguísticos apurados para conferir qualidades estéticas do universo artístico literário, ou  simplesmente nos fazer embarcar numa curta experiência de aventura, amor, tristeza, erotismo, medo ou humor em algum breve momento da nossa vida de leitura. 



* Eliane Fitipaldi Pereira: Mestre e Doutora em Letras pela USP e tradutora de vários livros publicados por diferentes editoras.

** Rodrigo Passolargo: é Presidente do Conselho Branco Sociedade Tolkien – BR, instituição de que estuda e divulga a obra de J.R.R Tolkien e a literatura de Fantasia. Funcionário público e licenciado em História, já palestrou em vários eventos, como Bienal do Livro do Ceará e Encontro Anual de Literatura Fantástica – PB. Junto com a Secretaria de Cultura do Ceará coordena o Laboratório de Escritores.

*** Thomas C. Foster: leciona inglês na Universidade de Michigan, Flint, e também ministra cursos sobre ficção contemporânea, teatro, poesia escrita criativa e composição. Escreveu diversos livros sobre literatura e poesia, inglesa irlandesa do século XX, e mora em Lansing, Michigan. 

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Literariedade e Adaptação de Livros para o Cinema



A harmonia entre autores, leitores e a Sétima Arte nem sempre é das melhores. Roald Dahl ficou tão frustrado com o filme ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’, que decidiu jamais permitir uma adaptação do livro sucessor, ‘Charlie e o Grande Elevador de Vidro’. J.R.R Tolkien não viveu o suficiente para ver sua grande obra-prima, ‘O Senhor dos Anéis’, se transformar nos filmes mais premiados da história do cinema entre os anos 2001-2003, e nem O Hobbit entre 2012-2014; mas no que depender de Christopher, seu filho, ‘O Silmarillion’ jamais terá uma versão cinematográfica. Segundo o herdeiro, os filmes do Senhor dos Anéis “evisceraram [o livro] e o transformou em filme de ação”.

Há muito o que discordar de ambos. Apesar de Christopher Tolkien ter pontuado que a comercialização tenha reduzido o valor estético e o impacto filosófico da obra, é preciso esclarecer que o problema não é o filme, afinal este também possui um grande valor estético e filosófico para o Cinema, formato para o qual o livro foi adaptado. Então, onde estaria o problema? Ou, o que poderia ter levado Christopher à essa conclusão? Talvez os próprios leitores. Os mesmos que, no cinema, vibraram a cada flechada de Legolas mas torceram o nariz para os aspectos descritivos da narração; que assistiram com vibração as longas sequencias de luta em Minas Tirith, mas não leram com sensibilidade à poesia das canções e poemas ao longo da narrativa criada pelo doutor em Letras e Filologia.

Mesmo que estes leitores sejam uma exceção, ou mesmo que o Christopher Tolkien tenha exagerado em sua colocação, tem se tornado perceptível uma banalização da experiência literária e cinematográfica. De um lado leitores que não se sentem completos com o que leem e vivem a “mendigar” filmes baseados no seu mais novo livro favorito como “complemento”. Do outro, o lançamento de um filme baseado em algum livro famoso que provoca uma verdadeira corrida à leitura, sendo o objetivo ler o livro o mais rápido possível antes de assistir ao filme. Como resultado, no dia da estreia os debates se concentram em quão diferente o filme é do livro. Geralmente a sensação ao final desse processo é que o livro deixou de ser lido como livro e o filme de ser assistido como filme. E quando o filme não faz sucesso a opinião geral é: “não gostei, estava muito diferente do livro! Por que não fizeram igual? ”.

Não acho que nenhum leitor deve ter obrigação de gostar do filme, série ou peça baseado em algum livro, afinal o gosto é subjetivo e cada um tem uma recepção diferente de tudo o que ler, ouve e assiste. Entretanto, insisto na ideia de que o leitor precisa entender a literatura como procedimento diferente, e aproveitar os dois formatos sem dependências de um ou de outro, afinal, diferente do que muitos propagam, os filmes não estragam os livros, pois estes continuam intactos e prontos para serem lidos quantas vezes for necessário. Como argumentação, proponho uma análise a partir da compreensão do conceito de literariedade.

Um livro possui linguagem diferente até mesmo de outras linguagens escritas. De acordo com Victor Chklovski (1978), há uma distinção entre a natureza da linguagem poética e a natureza da linguagem prosaica (a linguagem do cotidiano), que é o procedimento utilizado por um escritor para a elaboração da linguagem. 

“E eis que para devolver a sensação de vida, para sentir os objetos, para provar que pedra é pedra, existe o que se chama de arte. O objetivo da arte é dar a sensação do objeto como visão e não como reconhecimento; o procedimento da arte é o procedimento da singularização e dos objetos e o procedimento que consiste em obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a duração da percepção; a arte é um meio de experimentar o devir do objeto, que já é “passado” não importa para a arte (CKLOVSKI, 1978, p. 45).

Isso torna, por exemplo, um texto noticiário diferente de um texto literário. Veja os exemplos a seguir:



Enquanto que o texto I é direto, com o predomínio de informações relevantes para um leitor de jornal que queira ter o conhecimento dos fatos, no texto II há uma articulação desautomatizada, onde detalhes que seria inúteis ao texto jornalístico, conferem dramaticidade e ambiguidade textual – aspectos apreciados no texto literário. Nele o autor se preocupou com minúcias trabalhadas pela linguagem. A ambiguidade textual possibilita ao leitor horizonte de interpretação variados. Por exemplo, nos livros não imaginamos os lugares e nem julgamos as ações das personagens da mesma forma, por mais que estes sejam extremamente descritivos. Cada um de nós traz, para cada leitura, tanto de nossa própria vida e própria perspectiva.

Orthanc em diferentes interpretações e procedimentos artísticos

Para enriquecer mais esta análise quanto ao processo de adaptação de um livro para o cinema, acrescento também compreensão da mimese, termo grego discutido por Aristóteles e Platão que corresponde a ideia de imitação, representação, ou seja, criar algo semelhante a outro, imitando-o. Sílvio Paradiso (2016), em sua análise de A República, diz que Platão acreditava que toda a criação humana já era uma imitação de algo pensado no plano imaterial, das ideias. Para Platão, se todo mundo já era imitação, as imitações dessas imitações (ou seja, as manifestações artísticas, escultura, pintura, literatura, fotografia e etc.) seriam uma segunda mão.

A arte escrita construída por um autor pode proporcionar informações e temas da vida cotidiana que, mesmo no entretenimento e na ficção, provocam no leitor novas perspectivas sobre a vida e da sua percepção do mundo. O cinema, em procedimentos diferentes, também. Quando um livro é adaptado há uma imitação da ideia “original”, que passa a assumir novas funções estéticas pertencente ao novo formato artístico. Nesse contexto, nenhuma adaptação de Drácula (Bram Stoker) poderá proporcionar a mesma experiência narrativa através de diários e memorandos em primeira pessoa, isso cabe apenas ao livro. 

A conclusão seria que todo filme adaptado de um livro é bom? Não, um filme tem sua própria crítica, baseada em critérios técnicos e também os subjetivos, de acordo com a experiencia de cada um. O que proponho, como conclusão, é que o leitor passe apreciar o livro como trabalho literário independente de uma transformação em filme, e que o filme passe a ser apreciado segundo suas possibilidades e peculiaridades e não apenas sob critérios de uma inviável semelhança ao livro. 

REFERÊNCIAS:

CHKLOVSKI, Vcitor. A arte como procedimento. IN: Toledo, D.O. Teoria da Literatura: Formalistas Russos. Porto Alegre: Globo, 1978;
ARISTÓTELES. Arte Poética. (Trad. Pietro Nassetti). São Paulo: Martin Claret, 2004. 

quarta-feira, 5 de abril de 2017

O Gato Preto - Edgar Allan Poe [Uma Análise Literária]

Os modelos de análise literária permitem observar os diferentes níveis textuais, desde a sintaxe, coesão, dimensão do texto e até sua estrutura; sendo o modelo mais usual focado nos principais operadores do gênero narrativo (PARADISO, 2016). Para a seguinte análise estrutural do conto O Gato Preto (The Black Cat) de Edgar Allan Poe, foram utilizadas as traduções das edições Medo Clássico – Edgar Allan Poe – Vol 1 (Darkside Books, 2017) e Contos de Suspense e Terror – Edgar Allan Poe (Martin Claret Ltda, 2015), com consultas ao texto original em inglês, disponível no site poestories.com.  

Edgar Allan Poes (1809-1849)
Narrador
Autodiegético, ou seja, é protagonista e narra sua própria narrativa: “Para a narrativa tão extravagante, porém tão despretensiosa, que estou prestes a escrever [...]¹. No texto há influência de percepções, pois é lido como uma confissão ou testemunho de um homem com mente doentia que vivenciou o ato narrado.

Personagens
Narrador protagonista (redondo);
Mulher/esposa (plano);
Policiais (planos).
Os personagens complexos (redondo), são os tipos mais próximos às condições psicológicas humanas, isto é, possuem densidade psicológicas, podendo sofrer alterações comportamentais e/ou ideológica durante a trama. Costumam apresentar dilemas morais e são imprevisíveis. Os personagens planos, por sua vez, são lineares, tendem a se manter com as mesmas características que lhes foram atribuídas no início da obra; possuindo baixa densidade psicológica e caráter marcado. (PARADISO, 2016)

Nó, Clímax e Desfecho
O nó acontece quando o narrador/protagonista mata o seu gato de estimação, pois é a partir daí que se desenrola a trama. O clímax e o desfecho estão fundidos, uma característica comum em contos, onde geralmente se trabalha um único conflito dramático. O ápice é a descoberta do que o gato estava dentro da parede, junto com o cadáver da esposa.

Fonte: Novel Writing

Ambiente e Espaço
O conto possui um ambiente gótico, típico dos contos Poeanos. É possível extrair do texto alguns vocábulos que auxiliam a construção de um ambiente de terror e suspense: Monstro, Medo, Pavor, Demônios, Agonia, Inferno, Cadáver, Grito, Aterrorizado, Tumba, Agonia, Crânio e etc. A narração acontece uma cadeia: “Mas amanhã morrerei e hoje preciso aliviar minha alma [...]”... "É com muita vergonha que admito - sim, mesmo agora condenado nesta cela [...]"²; e a narrativa em uma casa: “Uma noite, regressando a casa [...]”. 

Segundo FRANCO JR (2003), o ambiente caracteriza determinada situação dramática em determinado espaço, ou seja, o clima e a atmosfera que se estabelece entre as personagens em alguma situação, sendo que o espaço pode apresentar vários ambientes. Ambientação, por sua vez, é a identificação da forma com o ambiente é construído pelo narrador e, ao mesmo tempo, identifica o trabalho de escrita do autor do texto.

Símbolos

O gato e seu nome Pluto é uma referência ao deus romano do submundo, ou Hades, segundo a mitologia grega. Além disso, há a forca como símbolo de culpa. 

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Bibliografia 
FRANCO JR, Arnaldo. Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá: Eduem, 2003;

PARADISO, Silvio. Teoria da Literatura. Maringá: Unicesumar, 2016 

¹ Contos de Suspense e Terror – Edgar Allan Poe (Martin Claret Ltda, 2015)
² 
Medo Clássico – Edgar Allan Poe – Vol 1 (Darkside Books, 2017)

segunda-feira, 27 de março de 2017

Drama na Idade Média [Os Pilares da Terra]




SINOPSE: Inglaterra, meados do século XII. Em uma terra abalada por sangrentas batalhas pela sucessão ao trono do Henrique I, um homem luta contra tudo e todos para levar a cabo a minuciosa construção de uma catedral gótica, digna de tocar os céus. Ao redor da igreja e de seus personagens, forma-se um mosaico de um tempo conturbado, varrido por conspirações, intrincados jogos de poder, violência e o surgimento de uma nova ordem social e cultural. Aclamada como a obra-prima de Ken Follet, ‘Os Pilares da Terra’ é sucesso entre público e crítica por mais de duas décadas, com mais de 18 milhões de exemplares vendidos no mundo todo. 



A arte tem a força de ampliar a visão da realidade ao criar perspectivas para a compreensão da História, e de contribuir para fortalecimento de nossas capacidades cognitivas ao possibilitar a reflexão sobre a natureza humana em suas múltiplas facetas. É sob essa possibilidade, na Literatura, que Ken Follet escreveu um dos Romances de ficção histórica mais emocionantes dos últimos 20 anos – Os Pilares da Terra.

Para conferir veracidade à ambientação¹ e ao ambiente² da trama, Follet contou com o conhecimento de renomados Historiadores como Jean Gimpel, Geofrey Hindley, Warren Hollister e Margaret Wade Labarge. A contribuição destes especialistas em Idade Média são perceptíveis em vários momentos da narração desenvolvida por Follet, que fornece ricos detalhes do contexto político, religioso, cultural e arquitetônico da época. O conjunto dos fatos ocorrem num espaço de tempo de 51 anos, narrados cronologicamente em: Prólogo (1123); Parte um (1135-1136); Parte dois (1136-1137); Parte três (1140-1142); Parte quatro (1142-1145); Parte cinco (1152-1155); Parte seis (1170-1174).


A arquitetura é um dos conteúdos mais importantes em Os Pilares da Terra
Num texto de grande beleza estética, o leitor é levado ao passado numa experiência verossímil da anarquia que assolou a Inglaterra no século XII e as duras consequências na vida dos ingleses daquele período. A interação dos personagens entre protagonistas e antagonistas e a percepção de seus sofrimentos, medos, paixões, sonhos, crenças e ambições, proporcionam momentos de profundas e fortes emoções ao longo da história. 

É também notável a variedade de temas abordadas no livro, na qual três me chamaram atenção pela magistral exposição: a injustiça contra as mulheres, a homofobia, e o papel desempenhado pela Igreja na sociedade da época, sendo esta o centro do enredo, mostrada em dois lados opostos, o da caridade, perdão, e amor (representados no personagem Philip) e o lado da corrupção e hipocrisia (representados no ambicioso e perverso Waleran).
Lado esquerdo: Prior Philip - um dos mais belos e inspiradores personagens
Lado direito: Jhonatan e Tom Construtor 
Por fim, repleto de conspirações e reviravoltas dramáticas, a habilidade de Follet em amarrar as pontas num grandioso clímax, tornam o desfecho da obra um grandioso, sensível e emocionante espetáculo à parte. Os Pilares da Terra é um monumento literário.


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¹ Ambiente: caracteriza determinada situação dramática em determinado espaço. O ambiente é o "clima, a atmosfera que se estabelece entre as personagens em determinada situação dramática [...]. Um mesmo espaço pode apresentar diversos ambientes" (FRANCO JR, 2003, p.44).

² Ambientação: Compreende "a identificação do modo como o ambiente é construído pelo narrador e, portanto, ela identifica também o rabalho de escrita do autor do texto, as escolhas que ele faz para construir deste ou daquele modo os ambientes" (FRANCO JR, 2003, p. 44). 

domingo, 19 de março de 2017

Os significados do logotipo Valfenda


Já por dois anos tenho feito uso desse belíssimo logotipo para carimbar postagens na Página e Grupo do Facebook e também no Blog. É provável que novos leitores ou membros do grupo se perguntem quanto ao significado da imagem; se há e quais são. A explicação está no processo de elaboração do mesmo, que ocorreu em Janeiro de 2015.

No final do ano de 2014, tínhamos no grupo Valfenda, no Facebook, uma grande número de membros eternamente fã das obras de Tolkien, mesmo após o término dos filmes sobre a terra-média no cinema. Falar sobre seus livros e conhecer mais pessoas que compartilham do mesmo apreço pela obra do professor, e pelas as adaptações cinematográficas, sempre seria o objetivo do grupo. No entanto, foi concordado que todos nós admiramos também outros autores e outros livros. Diante disso, foi decidido então que, Valfenda - A Última Casa Amiga, seria também morada de outros universos literários, dando espaço também para se ler e debater outros livros. Foi quando decidi criar um novo logotipo que fizesse jus a nova fase do grupo e do blog. O primeiro passo foi criar um texto para inspirar o Designer Arthur, da Sircrux, que foi o seguinte:

Valfenda - A Última Casa Amiga 

Fundado no ano de 1697 da Segunda Era e localizado em um imenso vale cortado pelo rio Bruinen, Valfenda foi um dos reinos élficos mais belos e pacíficos da Terra-média. Escondida nas charnecas e sopé das Montanhas Nebulosas, a cidade possuía uma uma arquitetura milenar de grandioso trabalho artístico em harmonia com uma exuberante natureza de belezas sem limites. Até o final da terceira era Valfenda se tornara um importante polo histórico e cultural da terra-média, muitos viajantes a buscavam para conselhos, descanso e arte, aproveitando as visitas na ‘Última Casa Amiga’ para conhecer artefatos e objetos de arte que contavam a história da antiguidade dos Homens e dos Elfos.

Não se sabe o que aconteceu com Valfenda após a partida de seus últimos habitantes; passaram-se anos, séculos, milênios. A história de um dos lugares mais espetaculares que a imaginação de um homem pôde criar, sobrevive nos livros, contos, filmes, desenhos e na música. O nosso grupo, nossa page e nosso blog, recebem esse nome porque cremos que a Valfenda de nossa imaginação merece ter uma perpetuação de sua essência: Ser um lugar de ‘descanso’ para todos os tipos de leitores, ter ‘Arte' de todos os gêneros e gostos e entretenimento como toda boa casa. Aqui queremos preservar a memória da Obra de J.R.R Tolkien e também desfrutar de outras Artes da Literatura e do Cinema, além da amizade e companheirismo das pessoas que conhecemos aqui.


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A partir disso, foi analisado os aspectos geológicos, a cultura, e a arquitetura de Valfenda, aferidos  nessa imagem:  

Diante disso, enfim, foi criado o logotipo, que tem os seguintes significados:



O V de Valfenda, inspirado nas construções dos chalés elaboradas por Alan Lee aos filmes, estando estas de cabeça pra baixo. A divisão em duas partes simbolizam a natureza do vale, representada por uma árvore repleta de galhos, significando a pluralidade do nosso grupo. As formas do V foram inspiradas nas espadas élficas que representam a arte e a força do grupo. Elas são envolvidas pelas raízes e ramos da árvore denotando o passar dos séculos e milênios do imaginário mundo antigo até os nossos dias. Valfenda se tornou ruínas, mas a essência de Imladris, Karningul, da última Casa Amiga a Leste do Mar sobrevive na nossa imaginação e no nosso portal!